O culto da graça, conjunto das virtudes e qualidades boas que o ser humano possua, é o que constitui a melhor fonte de simpatia, pois nada embeleza tanto a alma como os traços característicos da nobreza de berço. Quem
não procede dessa origem pode e deve criá-la, já que sempre há tempo de
obter pelo esforço, pela decisão e pela capacidade de estudo as mesmas
vantagens dos que se viram favorecidos na infância.
Na Criação existem duas forças que oscilam alternadamente numa luta constante: a de atração e a de repulsão. No ser humano, a simpatia atrai e é uma
força ativa que atua como centro gerador do afeto, devendo estar
regulada pela ação do critério, a fim de fazer possível a existência de
um equilíbrio estável, não alterado pelas relações com o semelhante. A simpatia que um ser inspira a outro cobre a distância que o faria permanecer estranho a ele. A amizade nasce do afeto que a simpatia cria. Da amizade nasce a confiança mútua, e é esta a que cimenta e dá vida aos grandes vínculos.
Para que isso seja possível, necessariamente devem ser cumpridas as exigências que a simpatia impõe: possuir pensamentos benévolos e quantos propiciem as melhores qualidades.
Na
vida de relacionamento, é preciso buscar o entendimento de maneira
simpática e afetiva. Nisso a mente há de desempenhar um papel muito
importante, pois são os pensamentos os que devem ir ao encontro da
afinidade ou criá-la, na medida do possível, conciliando
inteligentemente as diferenças que existam no pensar e no sentir. A
afabilidade, os bons modos e o trato agradável são disposições que promovem a consideração e a simpatia dos demais. A intolerância, os maus modos e a
linguagem áspera promovem o contrário. Onde quer que a pessoa se
encontre, deve fazer com que sua presença seja grata a todos, ou pelo
menos à maioria, e isso sempre será conseguido por quem mais conheça a
psicologia humana e tenha estudado a fundo suas reações e suas múltiplas
variantes.
O
errôneo conceito que geralmente existe acerca das atenções que o
semelhante nos deve prodigalizar, enquanto deixamos de tê-las para com
ele, é causa das mil situações incômodas que teremos de sofrer depois, já que, sendo a simpatia a
ponte de ouro que estendemos até seu coração e sua mente, e não sendo
esta ponte nada impossível, devemos nos apressar para torná-la efetiva, a
fim de que a simpatia e
o afeto que buscamos nos possam ser oferecidos através dela. O ruim é
quando fazemos isso mal, ou quando só construímos a metade, para que os
outros façam a sua parte; assim é como se truncam com frequência os melhores propósitos.
A simpatia é
uma força que influi decididamente na vida humana; conforme seja o
cultivo que dela se faça, serão os frutos a recolher para a realização
dos esforços que tendem à perfeição.
Lud Mendes