Muitos continuam sendo o que são até o final de seus dias, ignorando a existência em si mesmos de tão extraordinária potência transformadora e assimiladora.
A árvore é como é porque não tem consciência de seu poder fertilizante, nem de sua condição de existência animada. Carente de mobilidade, ela nasce, vive e morre no mesmo lugar, e só é sensível às mudanças de estação ou aos fatores que contrariam a normalidade de suas funções naturais. O animal a sobrepuja por sua organização biológica e suas possibilidades de movimento e configuração instintiva; porém, ao não conter em si possibilidades conscientes, cumpre o mesmo destino prefixado para sua espécie.
O ser humano, por sua própria vontade e inteligência, pode, ao contrário, transformar sua vida, superar sua própria espécie e alcançar, pela evolução consciente, os graus mais altos da perfeição, meta ideal em cuja cúspide a alma encontra desvelados para si os mistérios que antes a preocuparam e que, por serem indecifráveis para a inteligência comum, a mantiveram na ignorância, sem conhecer, e muito menos compreender, o Pensamento Criador de toda a existência universal. Mas esse poder permanece latente, isto é, sem possibilidade de manifestação dentro do ser, enquanto não tome contato com uma força superior que o desperte do letargo interno.
Força superior é a que emana de inteligências supersensíveis, assistidas pela Lei da
Sabedoria e facultadas para promover, em outras, fases de conveniente desenvolvimento, em ordenadas e pacientes aprendizagens.
O ser, despertado para realidades da índole citada, sente – e deve senti-lo por imperiosa lei de freqüência e de colocação – que se acendem nele novas luzes. São elas, pois, que haverão de iluminar-lhe o caminho, permitindo-lhe descobrir dentro de si mesmo possibilidades de um tipo diferente.
Ao conectar-se à força superior a que me referi, serão despertadas, por lógica gravitação de sua influência, as potências adormecidas do entendimento. Isso ocorrerá à medida que o processo transformador se vá realizando, e que a consciência se afirme numa fase plenamente evolutiva, não esquecendo que "Quem quiser chegar a ser o que não é deverá principiar por não ser o que é", como adverte o princípio logosófico.
Deixar de ser é deixar de existir, chame-se a essa existência de ser vivente, estado psicológico, estado de consciência, de coisa, de tempo ou de lugar; é fechar um capítulo da existência para abrir outro, no qual se começa a ser de outro modo.
Fácil será compreender, agora, que dizer "Por que sou o que sou?" vale tanto como dizer: "Ainda não tentei ser outra coisa". Muito prontamente, porém, você deixará de ser o que é, se se propuser mudar as velhas modalidades por outras novas e melhores, e, sobretudo, se começar a viver uma vida de enriquecimento moral, intelectual e psicológico capaz de mudar a anterior, que, ao que parece, já não satisfaz a seu entendimento.